18/05/09

A incerteza do draft

Publicada por Meirinho

O draft constitui praticamente o mecanismo exclusivo de renovação de talento na NBA. Ano após ano, 60 atletas dos quatro cantos do planeta são admitidos à Liga mediante um moroso processo de avaliação que culmina, decorridas largas semanas de workouts, na noite de selecção.

É instinto, não matemática. Os scouts confiam em largos anos de experiência para aferirem do potencial dos atletas para adaptarem o seu estilo de jogo às exigências da NBA, mas, naturalmente, nem sempre os palpites se revelam precisos. Todas os anos alguém é seleccionado bem antes do que aquilo que a sua produção acaba por aconselhar, e não há época em que alguém extremamente talentoso não seja resgatado já bem para lá da zona de lotaria, qual pepita esquecida no meio do cascalho. Há que saber peneirar.

A escassas horas de, nos escritórios da Liga em Secaucus, New Jersey, ser sorteado o modo como se ordenarão as 14 franchises que se viram arredadas dos playoffs 2009, faremos uma breve - e sempre curiosa - resenha de erros históricos cometidos em drafts da Liga Norte-Americana de Basquetebol Profissional.




Gilbert Arenas, 31ª escolha do draft de 2001


1972. Escolha #1 - LaRue Martin

Erro clássico. Os Blazers deixaram-se iludir pela perspectiva de contarem com um poste puro e dominante no seu plantel, confiando que a sua brilhante carreira no basquetebol universitário norte-americano serviria de prenúncio para o seu desempenho enquanto profissional - sim, esta história soa estranhamente familiar.
Martin obteve médias de carreira pouco superiores a 5 pontos e 3 ressaltos. Dois Hall-Of-Famers, Bob McAdoo e Julius «Doctor J» Erving, foram igualmente seleccionados nesse ano.

1976. Escolha #3 - Richard Washington

Mais um poste. A escolha parecia render frutos aos Kings ao fim de duas temporadas, mas o antigo membro dos UCLA Bruins cedo mergulhou na mediocridade, terminando a carreira ao fim de 6 anos, apresentando uma média de 10 pontos e 6 ressaltos por partida. Depois dele, mais três membros da Galeria da Fama ouviram os seus nom
es chamados: Adrian Dantley, Robert Parish e Alex English.

1978. Escolha #3 - Rick Robey

Seleccionado pelos Pacers, Robey nunca foi mais do que um role player. Teve por ponto alto da sua carreira a conquista de um anel de campeão ao serviço dos Celtics, ao lado de ... Larry Bird, lenda da Universidade de Indiana State, escolhido com a 6ª vaga pelo conjunto de Boston.
Reggie Theus e Mo Cheeks ainda tiveram que esperar.



Bowie e Jordan, respectivamente 2ª e 3ª escolhas do draft de 1984


1984. Escolha #2 - Sam Bowie

Palavras chave: Poste; Potencial. Os Blazers caíram no mesmo erro que haviam cometido 12 anos antes, mas desta vez infringiram a regra de ouro do draft: escolher sempre o melhor jogador disponível, independentemente da situação do plantel.
Devidamente apetrechada na posição de SG com Clyde «The Glide» Drexler, a formação do Oregon optou por reforçar o jogo interior ao invés de apostar em mais um ala. Naquela que foi já considerada a pior decisão da história do desporto mundial, Portland deixou que Michael Jordan seguisse para Chicago, ignorando ainda Charles Barkley e John Stockton. Palavras para quê?

1987. Escolha #3 - Dennis Hopson


Mais um role player escolhido demasiado cedo num draft com talento acima da média. Trocado pelos Nets para Chicago, Hopson viria ainda a sagrar-se campeão nos Bulls, onde - novamente - brilhava um jogador seleccionado mais tarde no mesmo draft: Scottie Pippen. Entre outros nomes sonantes igualmente preteridos contam-se Kevin Johnson, Mark Jackson e Reggie Miller.

1998. Escolha #1 - Michael Olowokandi

Ver 1972, 1976 e 1984. O «Kandi Man» dominara a divisão PAC-10 da NCAA recorrendo à sua pujança física, mas carecia das bases - começou a jogar basquetebol aos 17 anos - e da qualidade para se impor na NBA. A selecção deste poste tornou-se dramática para os Clippers face ao número de talentos excepcionais que integraram este draft, de que Mike Bibby, Antawn Jamison, Vince Carter, Dirk Nowitzki, Paul Pierce e Rashard Lewis são apenas alguns exemplos.

2001. Escolha #1 - Kwame Brown

Garanto que não temos qualquer preconceito relativamente a postes, mas este também não podia ficar arredado da lista. Brown, o primeiro jogador vindo directamente do liceu a ser seleccionado com a 1ª escolha do draft, não correspondeu à confiança de Michael Jordan e dos Wizards, transformando-se num suplente cada vez menos utilizado e regular moeda de troca em transferências à medida que a sua carreira evolui. Depois dele, foram seleccionados Pau Gasol, Joe John
son, Tony Parker, Gilbert Arenas e Mehmet Okur.


David Stern cumprimenta Darko Milicic


2003. Escolha #2 - Darko Milicic

No melhor draft da década não podia faltar um erro de casting de semelhante magnitude.
Na sequência do sucesso retumbante de Dirk Nowitzki na NBA, gerou-se um hype notável que, para além de Milicic, justificou ainda as posteriores escolhas de Andrea Bargnani e de Yi Jianlian em posições elevadas de drafts subsequentes. O jogador de elevada estatura capaz de actuar com mestria em zonas afastadas do cesto estava na moda.
Com apenas 23 anos, Milicic poderá ainda protagonizar uma carreira respeitável, mas nem por sombras será mencionado no campeonato das super-estrelas Carmelo Anthony, Chris Bosh e Dwyane Wade.

1 comentários:

Sérgio_alj disse...

Então e as descobertas por parte dos Spurs, com Tony Parker e Manu Ginobili, como 28ª e 57ª escolhas respectivamente?!!?!?!

E a pontaria dos Spurs, nas ultimas duas vezes em 22 anos que ficaram fora dos playoffs, foram sorteados para a 1ª escolha e "draftaram" o David Robinson e o Tim Duncan, só dois dos melhores Postes da NBA?!??!