Após uma tragédia, torna-se inevitável perguntarmo-nos: E se ... ? Uma equipa da NBA passou décadas consumida pela dúvida.
Boston, Massachusetts; 26 de Maio de 1986. Jogo 1 das Finais da NBA. Por trás do banco onde Kevin McHale, Robert Parish e Larry Bird ultimavam preparativos para a partida frente aos Houston Rockets, sentava-se um jovem em roupa casual. Não poderia ter passado despercebido por muito que o tentasse. A sua fama enquanto um dos mais espantosos atletas da história do basquetebol universitário norte-americano precedia-o. Chamava-se Leonard Bias.
Do alto dos seus 2,03m, Bias constituía uma força inigualável no seu escalão.
Poucas semanas antes, naquele mesmo pavilhão, um só jogador tinha explodido para uma exibição transcendente, assinando 63 pontos numa partida de playoff e estabelecendo assim um novo recorde absoluto nesta fase da competição. No final, Larry Bird diria que Deus se havia disfarçado de Michael Jordan.
Não deixava de ser irónico que o rapaz que muitos não hesitavam em colocar no patamar do eterno #23 dos Chicago Bulls se deslocasse naquele dia ao local do crime, testemunhando o arranque da equipa que viria a ser a sua para a série decisiva face aos Rockets de Ralph Sampson e Hakeem Olajuwon.
Três semanas mais tarde, com a 2ª escolha do draft de 1986, os campeões em título Boston Celtics seleccionariam Len Bias, da Universidade do Maryland.
Bias, momentos após o draft.
Red Auerbach, então Presidente do conjunto de Boston, manifestou o seu regozijo pela adição de Bias a um plantel consistente como poucos na história do jogo, sustentado em três futuros membros do Hall Of Fame, todos eles no auge das respectivas carreiras.
O guião sofreria uma mudança drástica em apenas 24 horas. Num dia, Len Bias era o herdeiro de Larry Bird; no outro, a personificação da desgraça. Num dia, Len Bias era o garante da continuidade da dinastia dos Celtics; no outro, um mau exemplo.
Aos 22 anos, Leonard Bias falecia, vítima de overdose por cocaína.
Os Celtics conseguiriam ainda alcançar as Finais em 1987, tendo sido batidos em 6 jogos, mas a morte de Len Bias significou, em última análise, o despoletar de uma série de infortúnios que resultariam numa ausência de 21 anos de Boston do estágio decisivo da NBA. Enquanto o Big Three decaía, equipas como os Lakers, Pistons e Bulls tomavam a Liga de assalto.
Quando, em 2008, um novo Big Three reclamou de volta o ceptro para a capital da Nova Inglaterra, o primeiro pensamento dos fãs dos Celtics terá ido para o eterno Red Auerbach, mas muitos ter-se-ão certamente lembrado do rapaz que ele escolhera para fazer perdurar a glória da sua equipa. Um rapaz que partiu antes de cumprir os seus sonhos: ser campeão e comprar um Mercedes.
2 comentários:
Soube desta história quando via Boston @ Cleveland na SportTv, no outro dia. Deixa realmente um ponto de interrogação sobre como teria sido o futuro dos Celtics, até o ano passado...
Já agora, como é que os Celtics ficaram com a 2ª escolha do draft depois de serem campeões?
A 2ª escolha do draft era originalmente pertença dos Sonics, que a enviaram para Boston na sequência de uma troca efectuada dois anos antes.
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