29/03/09

Crónica do Leitor - Uma cidade em brasas…

Publicada por João Miguel Ramos Delgado

Os Miami Heat são uma das mais surpreendentes equipas desta edição da NBA. Desde a sua fundação, em 1989, a equipa da Flórida passou por altos e baixos, tendo alcançado em 2006 a glória máxima, com o seu primeiro e, até agora, único, título de campeão.



Esta temporada foi tida, desde a preseason, como uma época de rebuild,depois do último lugar ocupado no ano anterior, com apenas 15 vitórias em 82 jogos.

O hall-of-famer Pat Riley deixou o comando da equipa, passando a dedicar-se “apenas” às funções de Presidente e General Manager da equipa. Para o seu lugar foi designado Erik Spoelstra, um jovem (38) treinador oriundo das Filipinas, para quem a presente temporada é já a décima quarta em Miami.
Na sua primeira temporada com a equipa, em 1995, Spoelstra era apenas coordenador de vídeos, mas as suas skills ao nível táctico, tecnológico e especialmente a sua capacidade de inovação e adaptabilidade a novos cargos foram-lhe valendo sucessivas promoções no staff dos Heat, até assumir o lugar de treinador principal.

O plantel da equipa, à semelhança do que sucede com o seu treinador, é bastante jovem, sendo que 9 dos jogadores que constituem o actual roster têm menos de 5 anos de experiência ao mais alto nível.

Falar dos Miami Heat, desde há 6 anos para cá, torna obrigatória uma menção a Dwyane Wade. A superstar da equipa, escolhida com a 5ª pick no Draft de 2003, junto com jogadores como LeBron James, Chris Bosh e Carmelo Anthony, é a maior referência da equipa desde que chegou à Liga.


Dwyane Wade é a grande estrela da equipa


Para esta temporada, desde cedo se tornou uma necessidade urgente reforçar a posição de Point Guard (base). Jason “White Chocolate” Williams terminou a carreira (apesar de ainda ter assinado, posteriormente, com os LA Clippers) e Chris Quinn e Marcus Banks não eram soluções à altura das aspirações da equipa.

Este problema foi resolvido da maneira mais imprevisível. No Draft, os Heat aproveitaram a, talvez, distracção, de muitos GM’s, para conseguirem um negócio à partida impensável, tendo oferecido aos Timberwolves duas 2nd round picks de 2009 e dinheiro pelos direitos da sua 32ª escolha, o ex-Kansas Jayhawk Mario Chalmers, conhecido pelo lançamento que deu o empate e consequente acesso ao prolongamento à sua universidade contra Memphis, na final do torneio da NCAA, no ano anterior.

Muitos não esperavam uma afirmação imediata de Chalmers na Liga, mas a verdade é que o jovem foi o único jogador dos Heat até agora, a começar todos os jogos como titular, entendendo-se muito bem com a estrela Dwyane Wade.
Recentemente, os Heat contrataram Luther Head, que se encontrava sem equipa, para backup de Chalmers.

Na posição de Shooting Guard (base lançador) não há qualquer dúvida. Dwyane Wade é dono e senhor da posição desde que chegou à equipa, tendo o campeão do 3-point-shootout, Daequan Cook, como suplente. Cook tem vindo a ganhar influência na equipa, à medida que desenvolve outras características para além do lançamento, sendo frequentes as vezes em que os Heat jogam com Wade na posição 1 (Point Guard) e Cook a 2 (Shooting Guard).

A posição 3, Shooting Forward (extremo lançador) esteve no início da época ocupada por Shawn Marion. Contudo, o facto de o veterano não render o que rendia em anos anteriores, quando alinhava pelos Phoenix Suns, e o seu contrato (cerca de 17 milhões de dólares anuais, terminando no final da presente temporada) levaram a que este fosse trocado, junto com Marcus Banks, para os Toronto Raptors, no período de transferências de Inverno.
Para Miami viajaram Jamario Moon e Jermaine O’Neal. O primeiro é actualmente o dono da posição, desempenhando-a com igual eficácia (apesar de as suas estatísticas serem relativamente mais baixas que as do ”Matrix”). Os backups menos utilizados da equipa para esta posição são James Jones, um nativo de Miami e fã da equipa, Yakhouba Diawara, que veio de Denver na preseason, e Dorell Wright, que apenas fez dois jogos esta época, devido a lesão.

Uma das grandes dúvidas do coach Spoelstra no início da temporada era sobre quem jogaria a Power Forward (extremo-poste). Os Heat escolheram, com a segunda pick, no último draft, a antiga estrela de Kansas State, Michael Beasley, que tinha médias de 26 pontos e 12 ressaltos por jogo.
No entanto, a posição era habitualmente ocupada por Udonis Haslem (o único campeão em 2006, para além de D-Wade, que permanece na equipa), que representa muitos dos valores que a equipa deseja transmitir aos jogadores mais novos, sendo um jogador bastante superior a Beasley nas acções defensivas.

A solução passou então por colocar Beasley como Power Forward e Haslem como Center (poste), tendo a adaptação dado resultado. Porém, a descida do rendimento de Beasley levou a que este passasse a começar os jogos no banco, situação que se mantém até agora. Joel Anthony, um jogador canadiano de 26 anos, por vezes comparado ao lendário Alonzo Mourning, pelas suas capacidades defensivas, assumiu o lugar, produzindo muito pouco, contudo.
A solução passou então pela vinda de um outro poste, o possante Jermaine O’Neal, envolvido, como disse, na troca de Shawn Marion para Toronto. Desde aí até agora, Jermaine assumiu, com toda a naturalidade, a titularidade, relegando para o banco Jamaal Magloire e Joel Anthony. Também o veterano Mark Blountintegra o plantel, tendo um contrato impressionante (de cerca de 8 milhões de dólares por ano), tendo em conta o rendimento que apresenta, que é nulo.

Actualmente, os Heat ocupam o 5º lugar da Conferência Este, sendo que muitos lhes apontavam algo como um 9º ou 10º, antes de a época começar. Com 38 vitórias e 34 derrotas, chegar ao 4º lugar parece ser já impossível, dado a distância a que os Atlanta Hawks se encontram, sendo o grande desafio da equipa, neste momento, conseguir segurar a posição, face à pressão dos Philadelphia 76ers.

Dwyane Wade lidera a equipa em pontos (29.8 por jogo), assistências (7.5 por jogo), roubos de bola (2.2 por jogo) e desarmes de lançamento, com 1.4 por jogo (só Jermaine O’Neal tem melhor média nesta categoria, mas grande parte deles foram conseguidos em Toronto). Está a fazer uma temporada digna de MVP, sendo um dos três grandes candidatos à conquista do prémio, tal como LeBron James e Kobe Bryant.

No entanto, a temporada de D-Wade não pode justificar tudo. É sem dúvida o maior factor para o destaque destes Miami Heat, depois de uma época tão tormentosa como o foi a anterior, mas outro grande segredo é a juventude e vontade constante de aprender e evoluir deste grupo. Chalmers, Cook, Beasley, Quinn e Moon são exemplos disso, tendo os capitães Wade, Haslem e Jermaine O’Neal grande importância nesse projecto.


Os jovens são um dos grandes segredos para o sucesso da equipa


Os Heat, no entanto, não têm apenas um projecto para o presente. O futuro está também a ser planeado, sendo o grande objectivo da equipa conseguir persuadir um maximum free agent, como Chris Bosh, LeBron James ou Amar’e Stoudemire, a assinar em 2010, ano em que estes e a sua própria estrela Dwyane Wade (que também tentarão manter) terminam contrato.

Foi esse o grande objectivo da troca de Shawn Marion, visto que Jermaine O’Neal acaba também o seu contrato de 21 milhões de dólares anuais nesse ano, tal como Haslem (cerca de 7 milhões) e Blount (cerca de 8), o que deixará os Heat com condições financeiras para conseguir concretizar esse ambicioso objectivo.

Texto de Miguel Fraga



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